Novos
rumos da opinião pública ipiraense
O último programa Conexão Chapada de
2016, da última terça, 27, programa especial solidário de fim de ano, despertou
a ideia deste texto. Isso por conta da última participação de Marcelo Brandão
antes da posse como prefeito, no programa que o propulsionou como político. Na
sua última participação do ano, ele pôde fazer uma breve retomada daquilo que
já havia alertado sobre a situação em que o município se encontra ultimamente,
e sobre a maneira como pretende enfrentá-la.
Essa é uma breve reflexão sobre aquilo
que o novo prefeito vivenciou, denunciou e projetou à frente do Conexão ao
longo dos últimos anos, e que contribuiu significativamente, no desenvolvimento
do intrincado conceito de opinião pública. Conceito algumas vezes ouvido,
entretanto, pouco compreendido. Nunca unânime, mas sempre influente.
Antes de adentrar no tema, convém anotar
rapidamente o papel de destaque que o Conexão exerce como programa jornalístico,
servindo como caixa de ressonância dos fatos, como normalmente costuma se referir.
Isso é reflexo, em boa medida, da cultura de cidades interioranas em abraçar mais
o rádio, como veículo de comunicação, pelas suas características próprias, como
a de maior alcance do público-alvo. Daí o olhar visionário, que em setembro de 1987,
fundou a rádio Ipirá FM, e de lá pra cá vem colhendo os frutos do investimento.
Pois bem, para o comunicador, é de
fundamental importância identificar a reação da massa diante dos acontecimentos,
sobretudo os locais, porque criam mais empatia e o ouvinte enxerga mais a
realidade na qual vive. Nessa conjuntura, portanto, depois de anos ouvindo as reivindicações
do povo e já ciente do que precisa esta cidade, chegou o momento, nas palavras
do prefeito eleito, “da fase de depuração... do choque de ordem... da arrumação
da casa, antes de mobiliá-la.” Foram anos acompanhando as queixas da população
acerca dos mais diversos problemas que assolam o município, sugerindo ou
apontando as medidas cabíveis para solução, ou possíveis alternativas para
ajuste. Destaque-se isso, durante anos.
Sendo assim, é chegada a hora de ser o
alvo para onde serão endereçadas as demandas e cobranças da população, depois
de tanto chamar a atenção para os desmandos do serviço público prestado num
passado recente, pela lâmpada do poste da rua x queimada, pelo buraco na rua y
a engolir carros, pelo tratamento inadequado de determinado funcionário público
municipal, pela ausência de investimentos em saúde, educação, infraestrutura,
dentre outras reclamações comuns que os ouvintes faziam e vão continuar a fazer.
Já é certa a continuidade do programa,
seu formato deverá ser o mesmo, entretanto - isso é presumível -, ficará órfão
dos bramidos incisivos e insubstituíveis de seu ex-âncora. Essa era uma
característica que pulsava em si e fazia pulsar a opinião pública ipiraense.
Muito embora os trabalhos no Conexão continuem, com os demais profissionais da
emissora, no comando do programa, recebendo as queixas e sugestões, ficará o
vácuo do estilo próprio, da batida de mão na mesa nos momentos de maior êxtase,
do termo “mal-amanhado” para definir o erro, enfim. De tal modo que, os
trabalhos no programa devem prosseguir da forma mais diplomática possível.
Para fundamentar o tema aqui tratado,
vejam o que diz o estudioso do assunto, Gaudêncio Torquato: “A opinião pública
funciona como salvaguarda da sociedade, é de suas criações mais importantes
para o próprio desenvolvimento e ajuste social, é uma arma de defesa contra as
ameaças de sistemas autoritários, uma ferramenta de avanços e mudanças e uma
câmara de eco das grandes demandas sociais.” Sim, o leitor(a) pode perguntar,
como nasce a opinião pública? Sua dinâmica é tão somente orquestrada pelo que o
âncora do programa fala? Não! E nesse quesito paira outra forte característica,
muitas vezes ressaltada no programa, a de que “é o povo que está falando!” E se
por acaso o discurso fosse diferente, simplesmente a opinião pública não
existiria aqui em Ipirá.
Observem como Gaudêncio Torquato
continua, a respeito do surgimento da opinião pública: ela “nasce das ideias e
crenças individuais, que vão se aglomerando em núcleos, expandindo-se de
maneira vertical (nas classes sociais) e horizontal (nos espaços geográficos), conduzida
pelos meios de comunicação, que funcionam como tuba de ressonância dos fatos.”
Logo, se compreende que o programa tem seguido esse script e o feedback com o público estabeleceu-se de tal forma, que
o programa jornalístico acabou se transformando em referência para Ipirá e
região.
Com todas essas circunstâncias a seu
favor, MB naturalmente reportava-se, em passagens dos discursos de campanha, ao
período no comando da bancada, quando fazia alusões do tipo, “lá no Conexão
acompanhei as queixas...”, “não me curvei diante das intimidações...”, “fiz
questão de denunciar as irregularidades...”. Pronto, bingo! Ganhava o público,
e sua opinião, paulatinamente.
Mas agora há uma inversão de papéis, e
o clichê de que “as expectativas são as melhores possíveis” quanto à nova
gestão, é endossado pela tarimba de quem tanto ministrou essa relação de
diálogo com a sociedade. Ao tempo em que, também, agora submete-se ao crivo
avaliativo da mesma. Então, não é fácil dimensionar o tamanho da
responsabilidade, o novo gestor sabe o caminho tortuoso que representa esse
desafio, mas nem por isso será pouco cobrado para superá-lo.
A sensação que fica,
guardadas as devidas proporções, é aquela parecida com a da convocação de um jogador,
que vem se destacando há tempos por seu clube, para defender a seleção
brasileira. Assim MB deixa a bancada do Conexão Chapada como
apresentador/âncora, onde ouvia as vozes dissonantes (da torcida adversária),
como também os aplausos (da torcida de seu time), como acontece num clássico do
futebol, para agora defender uma só bandeira, a de maior importância, a nossa
seleção, Ipirá.
Mídia Ipirá