Jornalismo
comunitário
“Eu quero até saber... manda aí pra
gente através do zap ou facebook... é importante que a comunidade se
pronuncie!” Essas são palavras do prefeito Marcelo Brandão, nessa sexta-feira,
27, em seu novo programa na rádio Ipirá Fm, quando versava sobre a necessidade
de que a comunidade ipiraense se posicionasse a respeito da prestação dos
serviços públicos locais.
Todo cidadão pode, hoje, falar aos
quatro ventos, aquilo que bem entende, inclusive sobre coisas que nem sempre
compreende bem, da forma que lhe for conveniente, algumas vezes sob os cuidados
necessários para não incorrer em ofensas e difamações, quando o comentário for
de cunho pessoal. Essa é a tônica da comunicação entre as pessoas, no mundo
conectado de hoje, diante da contínua sucessão de coisas e assuntos, em debate
permanente e em tempo real. Por um lado, toda essa facilidade para qualquer um
se expressar, ajuda na tomada de conhecimento dos fatos, sim. Por outro lado, a
veracidade ou o fundamento de determinadas informações circulantes, são
requisitos caros à boa notícia, e que demandam cuidados em sua averiguação. Isso,
é claro, não deixa de contribuir para externar os anseios de determinada
comunidade, no que diz respeito às carências e insatisfações do meio em que
vive.
Desse modo, se tivesse que falar em
jornalismo local engajado nas causas sociais ipiraenses, jornalismo comunitário
seria o “modelo” mais coadunado com os padrões da cidade, mas que também estaria
atrelado às restrições de seu exercício por aqui, como ocorre em tantas outras cidades
de pequeno porte. Fato que pode significar para alguns, a quase impraticabilidade
deste serviço. Mas, sem querer enveredar pelas nuances do fazer jornalístico, o
que caberia em artigo mais extenso, é válido atinar para algumas peculiaridades
desta “espécie” de comunicação, objeto desse texto.
Em relação ao jornalismo comunitário,
dada a sua escassez pelas cidades do interior do Brasil, a literatura acadêmica
chega até mesmo a trabalhar com a hipótese de sua inexistência, com exceção de
poucos. José Marques de Melo, primeiro doutor em jornalismo titulado por
universidade brasileira, afirmou certa feita que “uma imprensa só pode ser
considerada comunitária quando se estrutura e funciona como meio de comunicação
autêntico de uma comunidade. Isto significa dizer: produzido pela e para a comunidade”. A originalidade do tipo jornalístico em
questão, portanto, reside justamente nesta afirmação de Marques de Melo. Atenção
especial quando se refere à produção pela
comunidade, porque o para a
comunidade, é o objetivo de todo veículo de informação.
Inovar editorialmente, com uma cobertura
de temas mais ajustados com as aspirações comunitárias, é de fato um grande
desafio, que envolve dentre tantas outras coisas, o que a pesquisadora Beatriz
Dornelles vislumbra como “a política de vizinhança, a solidariedade, o
coletivismo, os valores, a moral, a fé religiosa, o respeito humano e a cultura
de pequenas populações...”. Ainda que essas características possam deixar
subentendida uma verdadeira miragem aqui em Ipirá, onde historicamente dois
grupos sucederam um ao outro, criando legiões de seguidores, que normalmente
confrontam-se com troca de farpas, alimentando antipatias de forma recíproca;
seriam estas algumas das condições para que realmente se efetivasse uma
produção de matérias em favor da cidade, próximas de um equilíbrio mais
sustentável e condizente com a imparcialidade tão cobrada no meio jornalístico.
A vontade de ver a cidade de Ipirá se
desenvolver, tomar um novo rumo, com novas perspectivas de avanço,
principalmente agora com o início de uma nova gestão administrativa, ao mesmo
tempo em que revitaliza o sentimento de cidadania, ancorado no slogan “Orgulho
de viver aqui”, também reclama uma vigilância por parte da comunidade, no
acompanhamento dos projetos e ações que atendam aos seus anseios. Com uma
mentalidade pautada nesse ideal de coletividade, com a livre iniciativa de
todos, inclusive com a observância dos diferentes matizes políticos e
ideológicos, assim seria exequível um projeto mais abrangente de comunicação
voltada para a comunidade ipiraense, que pudesse situá-la de forma mais atuante
e esclarecida sobre a realidade em que está inserida.
Então,
fica a dica. Aliás, o prefeito ainda está sem nome para o programa no rádio e
não quer nada que seja repetitivo. Também quer algo onde a comunidade esteja
participando, conversando sempre. “O povo tem que estar no comando”, frisa o
prefeito. Sugestões? A deixa foi apresentada, organizemo-nos.
Diogo Souza
Graduado em Comunicação Social / Jornalismo
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