Inmet
(Instituto Nacional de Meteorologia) prolongou até sexta (17/11) alerta
vermelho, nível mais alto, devido às altas temperaturas.
Fonte: BBC
Em meio à onda de calor que atinge, sobretudo, as regiões Sudeste e
Centro-Oeste, o que acontece com o nosso corpo quando exposto a temperaturas
extremas? Por que corremos mais riscos? E quais cuidados devemos tomar?
Nesta segunda-feira (13/11), o
Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) emitiu um aviso no qual prolongou
até sexta (17/11) o alerta vermelho, o nível mais alto, uma vez que as
temperaturas estão pelo menos 5°C acima da média por um período maior do que
cinco dias — o forte calor, segundo o instituto, pode representar um risco para
a saúde.
Segundo especialistas ouvidos
pela BBC News Brasil, mesmo que algumas regiões do Brasil frequentemente
experimentem altas temperaturas durante o mês de novembro, e os
brasileiros estejam geralmente mais adaptados ao calor em
comparação com populações de outros países, a situação é particularmente
perigosa devido à sua intensidade.
O que acontece
Quando o ar fica mais quente
que a temperatura da pele, que normalmente é de 36°C a 37°C, ou se o suor não
evapora, começamos a ganhar calor, e a temperatura central do nosso corpo sobe
gradativamente.
No entanto, se esse aumento
não for controlado e a temperatura corporal continuar subindo, respiração,
pele, rins e coração podem ser afetados.
As consequências podem variar
desde um simples mal-estar ou dor de cabeça até a morte, nos casos mais graves
(veja recomendações sobre como se proteger ao fim desta reportagem).
Um estudo recente mostrou que
países tropicais como o Brasil enfrentarão provavelmente condições
"perigosamente" quentes quase diariamente até ao final do século.
"Perigoso", neste
caso, refere-se à probabilidade de exaustão pelo calor, a perda excessiva de
sais (eletrólitos) e líquidos devido ao calor.
A exaustão pelo calor não vai
causar sua morte se você conseguir pará-la e desacelerá-la — ela é caracterizada
por fadiga, náusea, batimentos cardíacos lentos e possivelmente desmaios.
Mas você já não pode trabalhar
nessas condições.
O índice de calor indica
quando é provável que uma pessoa atinja esse limite.
O Serviço Nacional de
Meteorologia dos Estados Unidos (NWS, na sigla em inglês) define como
"perigoso" um índice de calor de 39,4°C e "extremamente
perigoso" de 51,7°C.
Se uma pessoa atingir
temperaturas "extremamente perigosas", pode sofrer insolação, uma
condição muito séria.
Nesse nível, você tem algumas
horas para procurar atendimento médico para esfriar seu corpo ou suas chances
de morte aumentam consideravelmente.
"À medida que a
temperatura externa aumenta, cresce a pressão sobre o nosso organismo para
manter a temperatura interna, que gira em torno de 36,5°C. A frequência
cardíaca aumenta como um mecanismo compensatório, assim como a pressão
arterial", diz Lucas Albanaz, clínico geral, coordenador da clínica médica
do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, e mestre em Ciências Médicas.
"Dependendo da gravidade
do caso, pode ocorrer até a morte, seja pela desidratação extrema, por enfarto
ou até mesmo por Acidente Vascular Cerebral (AVC ou derrame)", acrescenta
ele.
'Termorregulação'
Nosso corpo passa por uma
série de ajustes para regular a temperatura interna quando está "em
estresse térmico", ou seja, quando fica exposto a temperaturas extremas.
Quando exposto ao calor, a
primeira reação do organismo é a transpiração e a dilatação dos vasos
sanguíneos periféricos.
No entanto, em temperaturas
muito altas, especialmente quando também está úmido, o mecanismo de
resfriamento do suor se torna menos eficaz, levando ao superaquecimento
corporal, insolação e possíveis danos aos órgãos.
Isso porque a umidade do ar
influencia na transpiração — quando o nível da umidade relativa do ar (umidade
atmosférica) está alto em um dia quente, o suor na nossa pele não consegue
evaporar de forma eficiente no ar, sendo, portanto, mais difícil regular a
temperatura corpórea.
Por essa razão, os efeitos do
calor extremo no corpo tendem a ser diferentes dependendo da área onde você
estiver.
"A atual onda de calor é
bem ampla, vai atingir cerca de 15 estados. Se pensarmos numa característica
básica, a onda de calor será mais seca, com baixos índices de umidade do ar,
especialmente em áreas interioranas, longe do litoral, onde valores mais baixos
de umidade predominam mais (interior de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato
Gross, por exemplo), já em áreas litorâneas, como na costa do Paraná, de São
Paulo e no Rio de Janeiro, a umidade fica em bons níveis (acima de 60%)",
diz à BBC News Brasil Carine Gama, meteorologista da Climatempo.
Ela ressalva, contudo, que
"mesmo nas áreas interioranas, parte ou outra tem previsão de chuva mais isolada,
o que aumenta a umidade. Vale lembrar que a mesma oscila muito ao longo do
dia".
Crianças e idosos
Albanaz também lembrou que os
riscos são maiores para determinados grupos, especialmente crianças e idosos.
Os bebês e as crianças são
particularmente vulneráveis, em parte porque perdem líquidos mais rapidamente
do que os adultos e dependem de cuidadores para os ajudar a se resfriar.
Já as pessoas mais velhas
tendem a ter maior probabilidade de ter problemas de saúde como a diabetes, o
que as colocam em maior risco, e os seus corpos respondem ao calor de forma
diferente do que os das pessoas mais jovens.
Os idosos produzem menos suor
por glândula e os vasos sanguíneos mudam à medida que envelhecemos, o que torna
mais difícil o bombeamento do sangue para a pele e o resfriamento corporal.
Mas pessoas com problemas de
saúde pré-existentes, aquelas que fazem uso de medicações que, por algum
motivo, as tornem mais vulneráveis ao calor e trabalhadores que estão expostos
ao sol (como vendedores ambulantes) também precisam tomar cuidado extra.
Alguns antidepressivos e
antipsicóticos podem afetar a produção de suor, enquanto medicamentos para
tratamento de doenças cardíacas, como remédios contra a hipertensão, podem
causar desidratação e afetar os rins.
Até atletas de alto nível,
como jogadores de futebol profissionais, podem sofrer com o calor extremo — por
essa razão, especialistas recomendam evitar qualquer exercício físico entre 12h
e 16h.
Pesquisas também sugerem que o
calor extremo também pode afetar a saúde mental.
Um estudo de 2018 publicado na
revista científica Nature Climate Change constatou que o aumento da temperatura
está ligado a taxas de suicídio mais elevadas: para cada aumento de 1° C na
temperatura média mensal nos EUA, as taxas de mortalidade por suicídio
aumentaram 0,7%.
Segundo os autores da
pesquisa, as altas temperaturas podem induzir mudanças negativas no estado
mental.
Outro estudo, publicado na
revista científica JAMA Psychiatry em 2022, mostrou que as temperaturas mais
elevadas aumentaram a probabilidade de visitas ao pronto-socorro para qualquer
condição de saúde mental, incluindo transtorno por uso de substâncias,
transtornos de ansiedade e esquizofrenia.
Como se proteger do calor
intenso
"A palavra de ordem é
hidratação, que deve ser feita principalmente pela ingestão de líquidos. Também
é indicado hidratar a pele, com cremes, as narinas, com soro fisiológico, e os
olhos, com colírio. Essas partes do corpo também são afetadas", diz
Albanaz.
Abaixo, destacamos dicas
oferecidas pelos especialistas consultados na reportagem e divulgadas pela OMS
(Organização Mundial da Saúde):
Mantenha sua casa fresca
- Tente manter a temperatura abaixo de 32°C
durante o dia e 24°C à noite, especialmente para crianças, idosos e
pessoas com problemas de saúde crônicos;
- Use o ar noturno para resfriar sua casa,
abrindo janelas e persianas durante a noite;
- Reduza a carga de calor interna fechando
janelas expostas ao sol, desligando dispositivos elétricos e pendurando
cortinas.
Evite o calor
- Procure os lugares mais frescos da casa,
especialmente à noite;
- Se a sua casa não estiver fresca, passe
algumas horas por dia em locais com ar-condicionado, como edifícios
públicos;
- Evite sair durante as horas mais quentes
do dia e atividades físicas extenuantes.
Mantenha-se hidratado e fresco
- Tome banhos frios e use compressas frias
para aliviar o calor;
- Vista roupas leves e largas, incluindo
chapéu e óculos de sol;
- Use protetor solar
- Beba água regularmente e evite álcool e
cafeína, que contribuem para desidratação.
- Faça refeições leves, pouco condimentadas
e mais frequentes
Ajude outros
- Verifique familiares, amigos e vizinhos
vulneráveis;
- Certifique-se de que todos em sua família
saibam o que fazer em caso de calor extremo;
- Se tiver animais domésticos, evite
passeios nos horários mais quentes.
Cuidados em caso de mal-estar
- Procure ajuda se sentir tontura, fraqueza,
sede intensa ou dor de cabeça;
- Beba água ou suco para se reidratar;
- Em casos graves, como delírio, convulsões
e inconsciência, chame ajuda médica imediatamente;
- Leve a pessoa para um local fresco,
deite-a, eleve as pernas e inicie o resfriamento externo com compressas
frias;
Não dê medicamentos
sem orientação médica.