domingo, 2 de fevereiro de 2025

Sem caça às bruxas: Thiago do Vale concede entrevista sobre os primeiros 30 dias de governo, e inicia era do discurso que moldará sua imagem como gestor “à vera”

 


O prefeito Thiago do Vale tem entrevista na manhã dessa segunda, 03, no programa Conexão Chapada, para falar de seus primeiros 30 dias à frente da gestão municipal. Diferentemente do que se poderia supor, se por acaso o governo anterior fosse de grupo contrário, não haverá aquela tradicional troca de gentilezas sobre os desmandos passados. Não haverá dedo apontado para ninguém, será um papo longe do tom de caça às bruxas, isso porque o atual governo é a escolha sucessiva do último, no qual esteve bem ambientado. Pelo menos a lógica sinaliza que deverá ser diferente. Haverá um ganho de tempo para informações com maior utilidade, assim espera-se. Falar de matadouro novamente, só se a busca e apreensão prometida, conseguir recuperar algum equipamento.

Desse modo, Thiago do Vale poderá se comunicar de forma eficiente, ou seja, que não seja algo mais do mesmo, que dali se extraia uma notícia, ou algumas notícias, na acepção mais pura da palavra. Seus primeiros comandos e decisões, se quiser abordar em conversa franca, só tem a acrescentar. Em termos de comunicação sintonizada com as demandas sociais, mais do que propriamente com aquela do marketing “por onde passei e com quem estive”, será de grande valia. Afinal de contas, o prefeito estará em um programa jornalístico, e é de se esperar perguntas sobre as queixas que são direcionadas ao programa no dia a dia, como normalmente acontece.

Uma dica, para o bem do resultado prático do que vai falar para a população, e também em termos de condução de imagem por meio da comunicação, é procurar ser cirúrgico e realista no que declarar. Empolgação e emoção, a ponto de dizer que Ipirá terá isso e aquilo como o melhor da região, não combinam muito com as imprevisibilidades do ambiente político, ainda mais em tempos de maior conectividade entre as pessoas. Afinal de contas, a postura de falar em forma de espetáculo, para animar multidões, não emplacou bons resultados aqui por Ipirá, poucos anos atrás.

Vejamos o que tem acontecido com a imagem do governo federal, muito por conta da maneira como sua Comunicação tem conduzido as coisas. O embaraço no qual se meteu o governo Lula recentemente, após o episódio com o mal trabalhado anúncio do que efetivamente estava em jogo com as novas normas que seriam implementadas nas operações com o Pix. Onde resvalou a crise, também? Na Comunicação do governo. E Lula encontrou na figura do baiano Sidônio Palmeira, uma tentativa de reparação, visando 2026. Palmeira foi convocado para oxigenar a pasta com novas ideias e, naturalmente, mudar o panorama de queda nos índices de aprovação do governo.

Mas o presidente Lula é uma figura política verdadeiramente dada ao improviso e à singeleza com que trata os problemas, que muitas vezes manifesta por meio de seu insaciável gosto pelos dizeres espirituosos. Às vezes, sincerão demais. Em entrevista coletiva na última quinta-feira, 30, ele fez o seu mais novo ministro da Secom, o Sidônio, se contorcer com o riso preso, quando disparou, na mais plena tranquilidade: “Não se preocupe com pesquisa, porque o povo tem razão. A gente não tá entregando o que a gente prometeu, então como o povo vai falar bem do governo?”. Pois é, essa foi mais uma do tarimbado político Lula. Mas imaginem se a moda pega, com esse teor de sinceridade, Brasil afora!?  

Na verdade, esse tipo de confissão, quando a coisa não vai bem, é quase que um pecado fazer, e tratar abertamente. Mas o primeiro passo para a cura, é o reconhecimento do mal. Pensemos numa analogia com o processo judicial, um autor qualquer entra com uma ação alegando algum direito violado (isso é o fato digno de notícia), a petição chega até o juiz que despacha determinando que seja dado conhecimento ao réu, e aguarda pela sua defesa (juiz aqui é a imprensa, que relata o caso, aguarda a resposta do réu, mas não determina a sentença...pelo menos não deve); citado, o réu apresenta sua defesa, sua versão dos acontecimentos, seu posicionamento perante o que está sendo alegado (réu aqui é o outro lado do fato noticiado). O diferencial, aqui, é que quem faz o julgamento é o público-alvo da mensagem, e não propriamente a imprensa no papel de juiz. Relatar algo e ir em busca do posicionamento da outra parte é o que há de mais elementar no jornalismo. Isso já é praxe no mundo jurídico,  mas no jornalismo, talvez por ganhar visibilidade negativa em alguns casos, pode virar sinônimo de perseguição, sensacionalismo, realidade distorcida, insatisfação de veículos de comunicação, ou até mesmo pura acusação de fake news.

Essa mentalidade precisa ser transformada, e a Comunicação melhor tratada. Há que se ter maior responsabilidade com o que é dito, sob pena de incorrer em muitos escorregões, a exemplo do que aconteceu recentemente com o governo federal.

Nessa entrevista de amanhã, seria de bom tom que o prefeito dialogasse com as observações do major da 98ª CIPM em Ipirá, Giliam Silva, ao longo das entrevistas nessa semana, visando melhor aparato para colaborar no reforço da segurança pública local; que discorresse com mais detalhes sobre a viabilidade da fábrica de calçados e do shopping, o que deixou muita gente em polvorosa nas redes sociais, num misto de sentimentos sobre o sucesso do empreendimento; que falasse das ações, de como a prefeitura está ajudando os mais afetados pelas chuvas no começo do mês de janeiro e se vislumbra com novas intervenções no Centro de Abastecimento, a fim de melhor suportar as fortes chuvas, sem causar outros prejuízos para os comerciantes que ali tem seu negócio e mantém suas mercadorias; que retome a discussão em torno da municipalização do trânsito, uma vez que esteve reunido com prepostos do Detran nesse último mês também (em que pé tá esse processo?); desenvolva aquele discurso que proferiu na pré-jornada pedagógica, de um novo tempo também na qualidade de ensino e na alimentação escolar (esse assunto é bem recorrente entre as queixas dos ouvintes). Enfim, é para o bem: fala algo digno do que se possa ter como notícia, atribuindo, assim, dinamismo à gestão dos acontecimentos publicáveis, também.


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