A sina de uma cidade inserida numa encruzilhada administrativa que lhe impõe mais estagnação que avanço
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Imagem: Reprodução do slogan de governo |
Em primeiro lugar, os parabéns a Ipirá. Ela não tem
culpa pelo que passa, apenas resiste penosamente. Em 163 anos de emancipação
política, são muitas as histórias que podem ser contadas e relembradas, mas
nenhuma supera a que envolve o discurso atual de ‘resgate’ daquele sentimento
que todo cidadão pode, ou deveria ter, de sua terra: orgulho.
Se a ideia é de retomar aquela boa época, em que o
orgulho de ser da terra pulsava nos cidadãos ipiraenses, mais desafiador ainda
se torna resgatar esse tempo bom, que pode ser pensado de formas diferentes, de
pessoa para pessoa, e transformar num sentimento de orgulho em viver aqui. Isso
é, fazer com que o ipiraense não apenas orgulhe-se de ser da terra, mas que
encontre razões e motivos suficientes para viver nela.
Muitos dos filhos de Ipirá, mundo afora, queira ou
não, carrega consigo essa marca, orgulha-se ou não de ter nascido aqui, isso é
natural. Mas ‘osso’ mesmo é tentar impregnar a ideia do orgulho de viver aqui. Essa
é uma proposta de governo audaciosa, que está muito além daquelas coisas
‘batidas’ que estampavam slogans anteriores.
Talvez o orgulho de viver em Ipirá seja a chave para
o alcance da felicidade. Um orgulho que ainda é enaltecido pela classificação
de 22ª gestão dentre as 100 melhores do Brasil, mas que curiosamente nunca mencionada
numa conversa de Papo Reto.
Sendo assim, leitor(a), você consegue imaginar o
tamanho da responsabilidade que tem a gestão municipal nesse propósito de
moldar o sentimento das pessoas que aqui vivem? Consegue imaginar o que dirá
amanhã ou depois, daqui a meses ou anos, o gestor municipal sobre seu empenho e
competência para fazer valer o lema de governo que escolheu?
A tarefa não é fácil. O desenvolvimento e o
crescimento que se arrastam ao longo desses 163 anos talvez não sejam
compatíveis com a carga abrupta de querer mostrar grandeza em tudo que se
pretende fazer. Isso serve para um símbolo da cidade, como o Mercado de Artes,
que não merece um paliativo para atender dezenas de famílias, pois o que está
reservado para ele é a ideia de melhor praça de eventos da região. Não é
requalificar a Casa dos Estudantes, antes de perder as outras paredes, mas
levar em banho-maria o que havia prometido já estar pronto agora. Não é a
finalização das obras do Centro de Abastecimento, onde todos do município se
encontram às quartas e se cumprimentam em meio à lama nesse período chuvoso.
Desenvolvimento e progresso nesse momento é quebrar a
praça São José (‘Puxa’), que poderia aguardar para ser requalificada, mas que foi
iniciada a obra e chegou a ter sua entrega ventilada para hoje, no aniversário
da cidade. Não se confirmou. Orgulho de viver aqui mesmo, é diminuir a
importância de uma “festinha simples”, conforme afirmou no programa Papo Reto
de hoje, para marcar a passagem do aniversário da cidade.
O que dá orgulho não é aquela conversa modesta e
sincera sobre os problemas, mas sim aquela constante provocação de sonhos,
mexer com o imaginário das pessoas, transportá-las dessa terra hoje pacata,
para uma cidade com ares futurísticos.
Orgulho, portanto, não é simplesmente a realidade
concreta, é o que a imaginação permite. É o que traz a mensagem de governo
postada hoje, parabenizando a cidade por ser “uma terra acolhedora e que está
sempre se renovando”. Esse é o discurso pelo orgulho, é o que sua mente permite
fantasiar sobre a ‘renovação’ porque passa Ipirá.
Por Diogo Souza
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