ECONOMIA
S&P rebaixa nota de crédito do Brasil
Com o novo corte, rating do país fica 3 degraus abaixo do grau de investimento. Agência cita atraso em aprovação de reformas para ajustar contas públicas.
A agência internacional de risco
Standard&Poor's (S&P) rebaixou nesta quinta-feira (11) a nota de
crédito soberano do Brasil de "BB" para "BB-". Com isso, o
rating do país segue sem o selo de bom pagador, mas agora está três degraus
abaixo do grau de investimento. Já a perspectiva para a nota mudou de negativa
para estável.
O rebaixamento já era esperado
por parte do mercado em razão das dificuldades do governo para conseguir a
aprovação da reforma da Previdência.
Na justificativa para a decisão,
a agência apontou como "uma das principais fraquezas do Brasil" o
atraso na aprovação de medidas fiscais que reequilibrem as contas públicas.
"Apesar de vários avanços da
administração Temer, o Brasil fez progresso mais lento que o esperado em
implementar uma legislação significativa para corrigir a derrapagem fiscal
estrutural e o aumento dos níveis de endividamento", destacou a S&P em
relatório, acrescentando que as incertezas por causa das eleições de 2018
agravam esse cenário.
Além da dificuldade em aprovar reformas
com efeitos de longo prazo, a S&P destacou ainda que "ocorreram
retrocessos até mesmo com medidas fiscais de curto prazo - como uma
determinação para suspender o adiamento das altas de salários dos funcionários
públicos".
Meirelles lamenta atraso na
reforma da Previdência
Após o anúncio da decisão, o
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, lamentou que o Congresso não tenha aprovado a reforma da Previdência até
agora, informou o Blog do João
Borges.
Além da reforma da Previdência,
Meirelles mencionou entre as medidas ainda não aprovadas a reoneração da folha
de pagamento de empresas, a taxação dos fundos exclusivos, o adiamento do
aumento dos servidores públicos (suspenso por decisão liminar do Supremo
Tribunal Federal) e o aumento de 10% para 14% da contribuição previdenciária
dos servidores públicos.
O Ministério da Fazenda divulgou uma nota afirmando que o
governo federal se mantem comprometido com a consolidação fiscal. "A
S&P ressalta a necessidade e urgência da aprovação de propostas de
consolidação das contas públicas pelo Congresso Nacional, como a Reforma da
Previdência, além do adiamento do reajuste e o aumento da contribuição
previdenciária dos servidores públicos, corroborando as propostas da equipe
econômica", diz o texto.
Em maio do ano passado, a agência
chegou a colocar o Brasil em observação para um iminente rebaixamento após as
delações dos irmãos Batista, da JBS, envolvendo o presidente Michel Temer. Mas,
em agosto, retirou o alerta e manteve o rating do país em moeda estrangeira e
local em “BB”, e em perspectiva negativa.
A confirmação do rebaixamento é
um revés para a equipe econômica. Em janeiro de 2016, Meirelles chegou a dizer
em entrevista à Bloomberg, em Davos, que o Brasil estava muito perto de
recuperar o grau de investimento.
Perspectivas
Apesar do rebaixamento, a agência
colocou o Brasil em perspectiva estável - ou seja, sem previsões para novo
corte no curto e médio prazo. Isso se justifica, segundo a agência, pelo
"perfil externo comparativamente sólido do Brasil e a flexibilidade e
credibilidade de sua política monetária e cambial".
A S&P destaca também que,
embora o Brasil tenha saído da recessão, ainda deve registrar crescimento mais
baixo que outros países, especialmente por causa dos "altos déficits do
governo central". Para 2017 e 2018, a previsão do governo é fechar as
contas com um rombo de quase R$
160 bilhões.
A S&P avalia que o candidato
que sair vencedor das eleições presidenciais em 2018 precisará de apoio
político para aprovar medidas fiscais no Congresso, mas a agência não aposta
nesse cenário.
"A falta de apoio
substancial na classe política brasileira para fortalecer medidas fiscais mais
rápidas enfatizam o quão importante será para o próximo presidente do país
começar com um importante capital político e rapidamente passar medidas corretivas
que tenham impacto", diz a S&P. "No entanto, esse cenário não
está em nosso caso base", destacou.
A agência citou ainda as
turbulências políticas como fator que piora as perspectivas, fazendo alusão à
Operação Lava Jato. "As investigações sobre corrupção tornaram muitos
políticos desacreditados, aumentando a probabilidade de candidatos estranhos e
menos experientes nas eleições de 2018, o que evidencia os riscos para a
construção concertada de coalizões e aprovação de legislação difícil",
observou.
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Nota do Brasil nas agências de classificação de risco (Foto: Arte G1) |
Perda do grau de investimento
Com o corte desta quarta, o
Brasil voltou à classificação que recebeu pela S&P em 2004. Antes do
rebaixamento desta quinta, a nota do país estava na mesma posição nas escalas
das 3 principais agências de classificação de risco: dois degraus abaixo do
grau de investimento. Desde 2015, o Brasil perdeu o selo de bom pagador.
O Brasil conquistou o grau de
investimento pelas agências internacionais Fitch Ratings e Standard &
Poor’s pela primeira vez em 2008. Em 2009, conseguiu a classificação pela
Moody's.
A S&P foi primeira a tirar o
selo de bom pagador do Brasil, em setembro de 2015, ação que foi seguida pelas
outras duas grandes agências internacionais, Fitch e Moody's.
Segundo analistas de mercado,
historicamente, países costumam levar cerca de 5 a 10 anos para recuperar o
selo de país bom pagador.
Fonte: G1 / Karina Trevizan e Darlan Alvarenga
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