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“Quando ele fala, é uma coisa assim... bonita...
diferente!” – dessa maneira se expressou uma senhora, de uma localidade da zona
rural do município de Ipirá, aqui bem próxima da sede, na semana passada, numa
visita casual que foi feita em sua casa. A senhora, que terá seu nome
preservado, se referia à conversa política do prefeito Marcelo Brandão,
sobretudo nos tempos de Conexão Chapada.
Ela demonstra, nessa frase sucinta e singela, um
comportamento que é típico de muitas pessoas que passaram toda uma vida na
labuta da zona rural. Em meio ao carisma, à atenção e à boa receptividade que
normalmente têm, boa parte dessa comunidade costuma também mesclar um
comportamento mais arredio, com a ingenuidade própria de
quem vive muito mais preocupado com o verde do pasto e a água represada para a
sobrevivência digna em seu meio, do que com desenvolvimento urbano e modelo
administrativo efetivamente diferenciado. Isso é algo secundário. Quando chega
pra exigir um pouco, as pessoas do campo pedem estradas com boas condições para
o deslocamento até a sede do município. Claro que isso é o que é mais comum,
mas não somente essa queixa é o que reclamam.
Para melhor compreender as hipóteses que podem
responder ao questionamento do título, o(a) leitor(a) precisa saber, desde já, uma
coisa bem simples. O povo não tem muita vez em escolhas sobre o melhor a ser
feito numa administração pública, como alguns governantes costumam e gostam de
falar, pra fazer uma média com os incautos. Entretanto, o povo ganhou voz. Isso
mesmo, ganhou amplitude na voz e nas ideias que costumeiramente propagam pelas
redes sociais. Infelizmente, são ferramentas que ainda não podem ser
manuseadas de forma maciça pelas pessoas com o perfil da senhora citada acima,
no meio em que vivem, pois tecnologia da informação é algo muito novo para ser
desbravado por eles.
Uma primeira hipótese para responder ao
questionamento do título seria justamente a magia sobre a qual se deixa abater
boa parte do município de Ipirá, que tem o perfil semelhante ao da agradável
senhora personagem que inspirou essa matéria. Uma vez que a zona rural daqui é
bem extensa, com um eleitorado em número significativo, as ondas do rádio
alcançam seguramente qualquer morada nos mais recônditos lugares. E como a
audição dessas pessoas possuem maior sensibilidade com “conversa bonita e diferente”,
conforme afirmou nossa personagem, o rádio em Ipirá, em meio aos programas de
música, entretenimento e informação, encontra vigor e motivação também
atinentes aos apelos com propósitos eleitorais, em conformidade com a
polarização das principais siglas partidárias do município. Sendo assim, não
haveria muita dúvida sobre o foco maior a que se dirigem as palavras do
prefeito, no Papo Reto.
Uma segunda hipótese, a confirmar a prioridade dada
à zona rural no conteúdo e na maneira como se fala, seria exatamente o domínio
e o acesso maiores pela população urbana às informações circulantes nas redes
sociais e sites de notícias locais. Com esses recursos tecnológicos mais
disponíveis na sede do município, é absolutamente perceptível o choque direto,
frontal, com o que normalmente se observa no discurso e na prática do governo
municipal.
Quando o prefeito diz que o nome do programa é Papo
Reto porque vai colocar o dedo na ferida (nos problemas), e que vai resgatar a
pujança que a cidade tem em seu âmago, a recepção que o público do meio rural e
urbano têm a essa informação, é coisa de uma distância abissal. Seria como os
singelos eleitores da zona rural, os mais antigos preferencialmente, aqueles
acostumados no passado a firmar um contrato por meio da palavra, acreditassem
que em breve Ipirá tornar-se-á uma metrópole regional sob a batuta de uma
varinha de condão que tilintou durante anos, uma hora ao dia.
A população da sede, por sua vez, mais atenta aos
debates nas redes e nas ruas, e portanto com mais ferramentas para a discussão,
começa a se questionar sobre as pedras no caminho que embaraçam o desfrute de
uma “requalificação”, com “viés técnico”, como o prefeito tem frisado
ultimamente, que estava faltando às últimas administrações. O eleitorado da
sede que escuta o programa e o que o prefeito tem a dizer sobre os passos que a
administração tem dado, se debate com uma realidade muito abaixo do que se
esperava.
O povo que costuma ir às redes sociais fica dividido
com as expectativas criadas por melhorias na cidade. O sistema político,
polarizado da forma que é por aqui, elege argumentos que são preponderantes nas
discussões. Na defesa da administração, alega-se os famigerados 12 anos em que
muito pouco foi feito pelo outro grupo, é o que dizem. E o tempo de gestão que se tem até o momento
(14 meses), não ser o suficiente para implementar as promessas. No ataque, a
oposição aponta a continuidade ou piora em vários segmentos sob os cuidados da atual administração municipal. Saúde é um deles.
Ninguém mais que o próprio prefeito criou essa
virtualidade, ainda quando fazia o papel de âncora no programa Conexão Chapada.
Com os requintes lustrosos do discurso, moldou toda uma plataforma. De um só
ponto, para os quatro cantos da cidade. As hipóteses de preferência de público,
conforme expostas acima, hoje mais do que nunca tendem a uma modulação mais
criteriosa nos assuntos abordados, justamente por tais características
inerentes aos variados níveis de recepção do público-alvo. Se hoje a comunidade
rural sente algum alívio e comemora alguns reparos feitos nas estradas do
interior, euforia será se o projeto Estradas, ventilado para iniciar desde o
ano passado, sair do papel.
Ademais, como se está falando de informação em
rádio, um dos grandes desafios do gestor, para aplacar as resistências e
protestos ao que tem feito, ou não feito, é justamente mudar a melodia.
Controlar as palavras fáceis que amarram compromissos e evocar as informações e
medidas já concretizadas pela administração. Ou seja, trocar o canto da sereia
que antes lhe serviu mais, por um tom informacional que lhe comprometa menos.
Por Diogo Souza
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