Procurador-geral vê semelhanças com atitudes de parlamentares italianos para inviabilizar Operação Mãos Limpas
Por Gabriel Cariello e Marco Grillo 28/08/2017
O GLOBO
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O procurador-geral da República Rodrigo Janot durante o evento E agora, Brasil?, organizado pelo GLOBO - Adriana Lorete /O Globo |
RIO — O
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou, na manhã desta
segunda-feira, que projetos de lei apresentados no Congresso têm semelhanças
com ações adotadas na Itália com o objetivo de enfraquecer a Operação Mãos
Limpas, que apurou a corrupção na política na década de 1990. Para ele, algumas
iniciativas do Congresso "geraram perplexidade".
Em entrevista
ao GLOBO, publicada na edição de hoje, o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Luiz Fux acusou o Congresso de tentar enfraquecer o
Judiciário, em função da Lava-Jato, e citou o exemplo italiano.
— Se a gente fizer um paralelo do que aconteceu na Itália e do que aconteceu aqui, boa parte do que se passou na Itália se passou ou está se passando aqui no Brasil. Basta olhar as iniciativas legislativas feitas na Itália e as iniciativas legislativas que são apresentadas aqui no Brasil — afirmou Janot, que participa do seminário "E agora, Brasil", organizado pelo GLOBO.
— Se a gente fizer um paralelo do que aconteceu na Itália e do que aconteceu aqui, boa parte do que se passou na Itália se passou ou está se passando aqui no Brasil. Basta olhar as iniciativas legislativas feitas na Itália e as iniciativas legislativas que são apresentadas aqui no Brasil — afirmou Janot, que participa do seminário "E agora, Brasil", organizado pelo GLOBO.
Em sua palestra, Janot falou sobre a tramitação do
processo conduzido pelos parlamentares para aprovar a lei do abuso de
autoridade.
— A partir do momento em que as investigações prosseguem,
as reações acontecem. Algumas iniciativas do Congresso geraram perplexidade.
Uma delas foi a do abuso de autoridade, que estava em tramitação desde 2006.
Caminhava, parava, caminhava, parava... Mais ou menos com algum andamento mais
marcante das investigações. O preço da liberdade é a eterna vigilância. Temos
que olhar as reações do Legislativo, do próprio Judiciário, do Executivo.
O procurador-geral, assim como Fux, demonstrou
preocupação com o projeto que prevê a possibilidade de punição para juízes que
eventualmente tenham decisões reformadas em instâncias superiores — dentro do
projeto de abuso de autoridade, o item ficou conhecido como crime de
hermenêutica.
— Acho que nós temos que aguardar e ver o que de
concreto virá do Legislativo. O abuso de autoridade chamou atenção. É um
projeto bem antigo no Congresso. Recebeu impulso, depois estacionava dependendo
dos movimentos judiciais da Lava-Jato. Causou preocupação o fato de tentarem
implantar o crime de hermenêutica. O direito se dá com interpretação. Ser
tipificado como crime, é muito complicado. Nós temos que ficar atentos e ver o
dia a dia do que acontece no Legislativo — afirmou Janot.
LÁ COMO CÁ
Em entrevista ao GLOBO, Fux afirmou que a atuação
do Congresso segue o modelo identificado na Itália, quando parlamentares se
empenharam na aprovação de leis que acabaram enfraquecendo a Operação Mãos
Limpas.
— O enfraquecimento do Judiciário é uma das
fórmulas que se utilizou para fulminar os resultados positivos da Operação Mãos
Limpas, na Itália. E parece que isso está acontecendo agora no Brasil, em
relação à Operação Lava-Jato. Enquanto nós estamos estudando as melhores formas
de combater a corrupção, as melhores formas de investigação, o que se tem feito
no Congresso é estudar como se nulificou, na Itália, todos os resultados
positivos da Operação Mãos Limpas — disse o ministro.
Fux destacou o projeto de lei do abuso de
autoridade:
— Aqui (no Brasil), a iniciativa popular propôs
medidas anticorrupção, e elas foram substituídas por uma nova lei de crime de
abuso de autoridade, inclusive com a criminalização de atos do juiz. Se você
comparar, tudo o que se fez na Itália para minimizar os efeitos da Operação
Mãos Limpas tem sido feito no Brasil também — destacou Fux.
ENCONTROS FORA DA AGENDA
Janot afirmou também que acredita na continuidade
da Lava-Jato mesmo após sua saída do cargo. O procurador-geral elogiou a
atuação de juízes da primeira instância do Judiciário, sem citar os nomes dos
juízes Sergio Moro e Marcelo Bretas, que comandam as investigações em Curitiba
e no Rio de Janeiro, respectivamente. Perguntado sobre as decisões do ministro
Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, de libertar presos pela Lava-Jato
no Rio, Janot disse que os magistrados da Justiça Federal têm sido destemidos.
— Juízes de primeiro grau têm tido atuação
destacada, destemida e técnica. E nesse aspecto merecem todo nosso apoio e
nosso respeito — disse Janot.
Sobre o futuro da Lava-Jato na Procuradoria-Geral
da República, Rodrigo Janot evitou comentar a composição escolhida por sua
sucessora, Raquel Dodge, para comandar a equipe de investigação. No entanto, o
procurador-geral fez uma referência indireta ao encontro que Raquel teve com o
presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu fora da agenda oficial:
— Eu não posso fazer juízo de valor sobre a
conduta dos outros. O que eu posso dizer é que não costumo fazer encontro fora
de agenda, fora de horário, e marco bem objetivamente as conversas que tenho e
o conteúdo dessas conversas.
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