Após 30 anos, governo
autoriza exploração mineral na Amazônia
Decreto de Temer acaba com a
Reserva Nacional de Cobre entre o Pará e o Amapá. WWF Brasil fala em
'catástrofe anunciada'
Fonte: O Globo
Por Manoel Ventura / Lucianne Carneiro
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Vista aérea da Amazônia - Marcelo Sayão / Agência O Globo/07-02-1998 |
BRASÍLIA — Depois de mais de 30 anos fechada à
atividade de mineração, uma imensa área da Amazônia rica em ouro poderá ser
explorada pela iniciativa privada. Por meio de um decreto publicado na edição
desta quarta-feira do Diário Oficial da União, o governo federal extinguiu a
Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), criada em 1984, ainda durante a
ditadura militar. Com isso, uma área de cerca de 47 mil quilômetros quadrados
entre o Pará e o Amapá está liberada para extração de ouro e outros minerais
nobres. A área fechada tem o tamanho equivalente ao do estado do Espírito
Santo, ou oito vezes a dimensão do Distrito Federal.
A expectativa do governo é,
agora, iniciar os leilões das áreas para as empresas interessadas em explorar a
área. No decreto, assinado pelo presidente Michel Temer, o governo destaca que
a extinção da Renca “não afasta a aplicação de legislação específica sobre
proteção da vegetação nativa, unidades de conservação da natureza, terras
indígenas e áreas em faixa de fronteira”.
Apesar de ter cobre no nome, a reserva é rica sobretudo em ouro, mas também em tântalo, minério de ferro, níquel, manganês e outros minerais. Não há informações sobre o tamanho dos depósitos. Mas a avaliação do Ministério de Minas e Energia é que a área poderá se tornar algo de relevância mundial e despertar a atenção de mineradoras de todo o planeta.
A reserva do cobre foi criada
por meio de um decreto assinado pelo presidente militar João Figueiredo, que
impediu a exploração mineral na mata. A área fechada tem o tamanho equivalente
ao do estado do Espírito Santo, ou oito vezes a dimensão do Distrito Federal. O
plano dos militares era explorar, por meio de uma estatal, grandes jazidas de
cobre na região. Essa intenção, no entanto, não saiu do papel.
Sem mineração, a área reúne
florestas protegidas e terras indígenas. Por isso, a liberação da região para
as mineradoras preocupa ambientalistas. O governo federal ainda não detalhou
como será a entrada de mineradoras na região.
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Área da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), agora liberada para mineração - WWF Brasil |
'CATÁSTROFE ANUNCIADA'
A extinção da Reserva Nacional
de Cobre e Associados (Renca) por meio de decreto nesta quarta-feira foi
classificada como “catástrofe anunciada” pelo coordenador de políticas públicas
do WWF Brasil, Michel de Souza. Ele vê com preocupação a decisão do governo e
diz que coloca em risco as nove áreas protegidas que estão dentro dos limites
da reserva — como o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, que é o maior
parque de florestas tropicais do mundo:
— A Floresta Amazônica
é nosso maior ativo. Nesse momento de desespero e de crise, estão colocando em
risco as áreas protegidas que se encontram dentro da reserva — destaca Souza.
O coordenador da WWF Brasil
reconhece a importância da atividade de mineração para a economia brasileira,
mas diz é fundamental avaliar o risco envolvido:
— É um risco tremendo
dar esse tipo de sinalização por decreto, sem discutir com a sociedade. Abrir a
reserva sem transparência nos preocupa muito. É uma catástrofe anunciada. Temos
vários exemplos de contaminação mineral. Pode haver uma corrida para a região.
E como garantir que as grandes empresas de mineração vão seguir acordos de
cooperação dos quais o Brasil não é signatário?
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