OPERAÇÃO LAVA JATO
Janot denuncia Lula, Dilma, Gleisi, Palocci, Edinho, Mantega, Paulo Bernardo e Vaccari
Procurador-geral da República denunciou petistas ao Supremo Tribunal Federal em inquérito que apura se partido formou organização criminosa para desviar dinheiro da Petrobras.
G1, Brasília 05/09/2017
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou ao Supremo
Tribunal Federal por crime de organização criminosa os ex-presidentes Luiz
Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff; os ex-ministros Antonio Palocci Filho,
Guido Mantega, Edinho Silva e Paulo Bernardo; a senadora Gleisi Hoffmann,
presidente nacional do PT; e o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto.
A denúncia, no âmbito da Operação Lava Jato, foi oferecida dentro de
inquérito que apura se o PT formou uma organização criminosa para desviar
dinheiro da Petrobras.
Todos os denunciados são suspeitos de “promover, constituir, financiar ou
integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa”, cuja
pena é de 3 a 8 anos de prisão, além de multa.
A PGR também cobra dos oito denunciados indenização de R$ 6,8 bilhões,
valor que inclui devolução à Petrobras de suposto dinheiro desviado, além de
danos morais e materiais.
O G1 busca contato com todos os denunciados (leia as
versões deles ao final desta reportagem).
Caberá ao ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo,
notificar os acusados a apresentarem resposta e levar o caso à Segunda Turma do
STF, que decidirá se eles viram ou não réus pelo crime.
O caso está no Supremo Tribunal Federal porque um dos denunciados, Gleisi
Hoffmann, tem foro privilegiado, devido à condição de senadora.
Janot pediu ao STF que sejam remetidos para a Justiça Federal do Paraná
os casos dos ex-ministros Ricardo Berzoini, Jaques Wagner e Erenice Guerra; do
ex-senador Delcídio do Amaral; do ex-presidente da Petrobras José Sérgio
Gabrielli; além dos de Paulo Okamoto, ex-presidente do Sebrae; Giles Azevedo,
ex-assessor de Dilma; e o do pecuarista José Carlos Bumlai.
Como os casos deles não têm relação direta com o de Gleisi, não devem
ficar no Supremo e – se assim decidir o ministro Fachin – serão analisados pelo
juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância da Justiça
Federal, no Paraná.
A denúncia
Segundo a denúncia, entre 2002 e 2016, os oito acusados "integraram
e estruturaram uma organização criminosa com atuação durante o período em que
Lula e Dilma Rousseff sucessivamente titularizaram a Presidência da República,
para cometimento de uma miríade de delitos, em especial contra a administração
pública em geral".
De acordo com o procurador-geral, o grupo do PT é "parte de uma
organização criminosa única, que congrega, pelo menos, os partidos PT, PMDB e
PP, bem como núcleos diversos.
O procurador diz que o esquema permitiu que os acusados recebessem,
juntos, R$ 1,5 bilhão em propina.
Segundo Janot, Lula já foi acusado de organização criminosa no Paraná,
mas a apuração no Supremo "é mais abrangente" por "narrar maior
quantidade de ilícitos praticados pela organização".
Para Janot, "os concertos das ações criminosas praticadas
voltaram-se especialmente para a arrecadação de propina por meio da utilização
de diversos entes e órgãos públicos da administração pública direta e indireta,
tais como a Petrobras, do BNDES e do Ministério do Planejamento".
O grupo do PT, segundo Janot, teria atuado até maio de 2016, quando Dilma
teve de deixar a Presidência após condenação no processo de impeachment.
Lula
A participação de Lula, de acordo com a denúncia, remonta a 2002, quando
ele foi eleito pela primeira vez para o Planalto.
“Lula, de 2002 até maio de 2016, foi uma importante liderança, seja
porque foi um dos responsáveis pela constituição da organização e pelo desenho
do sistema de arrecadação de propina, seja porque, na qualidade de presidente
da República por 8 anos, atuou diretamente na negociação espúria em torno da
nomeação de cargos públicos com o fito de obter, de forma indevida, o apoio
político necessário junto ao PP e ao PMDB para que seus interesses e do seu
grupo político fossem acolhidos no âmbito do Congresso Nacional”, narra a
denúncia.
Para Janot, Lula deve ter condenado a uma pena maior que os demais porque
é considerado "líder" da suposta organização criminosa. O primeiro
episódio narrado sobre o presidente é de 2002, quando teria aceitado dinheiro
da Odebrecht para sua campanha, em troca de beneficiar o grupo em seu eventual
governo, caso fosse eleito.
“Lula foi o grande idealizador da constituição da presente organização
criminosa, na medida em que negociou diretamente com empresas privadas o
recebimento de valores para viabilizar sua campanha eleitoral à presidência da
República em 2002 mediante o compromisso de usar a máquina pública, caso eleito
(como o foi), em favor dos interesses privados deste grupo de empresários.
Durante sua gestão, não apenas cumpriu com os compromissos assumidos junto a
estes, como atuou diretamente e por intermédio de Palocci, para que novas
negociações ilícitas fossem entabuladas como forma de gerar maior arrecadação
de propina”, afirma Janot.
Dilma
Janot diz que a ex-presidente Dilma Rousseff integrou a organização
criminosa desde 2003, quando assumiu o Ministério de Minas e Energia, a convite
de Lula.
“Desde ali contribuiu decisivamente para que os interesses privados
negociados em troca de propina pudessem ser atendidos, especialmente no âmbito
da Petrobras”, diz a denúncia.
Para o procurador, os delitos da petista teriam continuado quando ocupou
a Presidência, destacando as negociações que fez junto à Odebrecht. A denúncia
diz que ela atuou, de “forma indireta” na cobrança de propina, por meio de
Mantega e Edinho Silva.
“Da mesma forma, durante o governo de Dilma, sempre que havia atrasos no
pagamentos a João Santana [marqueteiro do PT] pela Odebrecht, era Dilma que
resolvia de imediato a questão”, acrescenta Janot.
O procurador lista diversas contrapartidas obtidas pela Odebrecht durante
os governos Lula e Dilma, entre os quais: ampliação de crédito para exportações
para Angola; liberação de recursos para construção de submarinos; benefícios
tributários para a Braskem; atuação em prol da empresa em obras de usinas
hidrelétricas; e facilitação da compra, pela Previ (fundo de pensão do Banco do
Brasil) de torre comercial do grupo.
“Ao longo dos governos Lula e Dilma, por manifesta contribuição dos ora
denunciados no esquema criminoso acima narrado, a holding Odebrecht S.A. obteve
espantosa evolução patrimonial, saltando o seu ativo total de R$
15.894.355.000,00 em 2005 para R$ 213.329.886.000,00 em 2015, uma multiplicação
de seus bens em mais de 13 vezes, durante o aludido período”, registra Janot.
Versões dos denunciados
Lula - "A denúncia da PGR, sem qualquer
fundamento, é uma ação política. É o auge da campanha de perseguição contra o
ex-presidente Lula movida por setores partidarizados do sistema judicial. Foi
anunciada hoje para tentar criar um fato negativo no dia em que Lula conclui
sua vitoriosa jornada pelo Nordeste", informou a assessoria do
ex-presidente.
Dilma Rousseff - "Sobre a denúncia apresentada
pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a Assessoria de Imprensa da
presidenta eleita Dilma Rousseff esclarece: 1. Sem apresentar provas ou
indícios da materialidade de crime, o chefe do Ministério Público Federal
oferece denúncia ao Supremo Tribunal Federal sem qualquer fundamento. 2. Caberá
ao STF garantir o amplo direito de defesa e reparar a verdade, rejeitando-a. 3.
A Justiça será feita e não prevalecerá o Estado de Exceção. Não há mais espaço
para a Justiça do Inimigo."
Gleisi Hoffmann - “Tomei conhecimento da denúncia ao
mesmo tempo em que foi divulgada à imprensa. É uma denúncia sem qualquer
fundamento. Busca criminalizar a política e o Partido dos Trabalhadores no
mesmo momento em que malas de dinheiro são descobertas e membro do Ministério
Público é envolvido em denúncias."
Antonio Palocci - A defesa do ex-ministro informou que
somente se manifestará quando tiver conhecimento da denúncia.
Guido Mantega - "É no mínimo contraditório que,
num dia histórico, quando o Brasil se depara com a desfaçatez dos delatores e
sua disposição ao teatro e à dissimulação, a PGR resolva oferecer denúncia
usando como prova basicamente a palavra de delatores, antes de empreender uma
apuração mínima para saber se as acusações possuem algum elo com a
realidade", afirmou a defesa do ex-ministro.
Edinho Silva - O ex-ministro afirmou que sempre agiu
de forma ética e legal, que não tem dúvidas de que todos os fatos serão
esclarecidos e que a justiça vai prevalecer.
Paulo Bernardo - A defesa do ex-ministro Paulo
Bernardo afrimou que não teve conhecimento da denúncia e nem da existência de
inquérito policial para apurar essas possíveis condutas.
João Vaccari Neto - "A defesa do Sr. João Vaccari
Neto, diante dessa surpreendente denúncia ofertada hoje, pelo Sr. Procurador
Geral da República, manifesta-se, asseverando que ela é totalmente
improcedente, pois o Sr. Vaccari, enquanto tesoureiro do PT, cumpriu seu papel,
de solicitar doações legais destinadas ao partido, as quais sempre foram
depositadas na conta bancária partidária, com respectivo recibo e a prestação
de contas às autoridades competentes, tudo dentro da lei e com absoluta
transparência. O Sr. Vaccari continua confiando na Justiça brasileira e tem
convicção de que as acusações que lhe são dirigidas, haverão de ser
rejeitadas", afirmou em nota o advogado Luiz Flávio Borges D'Urso.
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Em denúncia, Janot aponta R$ 230 milhões em propina para Lula
Parte dos recursos estão relacionados à aquisição do imóvel onde está instalado o Instituto Lula
06/09/2017 - ATUALIZADA POR ESTADÃO CONTEÚDO
Ao denunciar a formação de uma organização criminosa pelo PT no âmbito da Lava Jato nos
mandatos presidenciais dos ex-presidentes Luiz Inácio
Lula da Silva e Dilma
Rousseff, o procurador-geral da
República descreveu pagamentos de vantagens indevidas a Lula em
valores que, somados, chegam a R$ 230 milhões, como contrapartida a
favorecimento de empresas como a Odebrecht e
a OAS em
contratos. Janot
descreve Lula como "grande idealizador" da organização criminosa
formada no governo federal para desvio de recursos relacionados à Petrobras.
Parte dos recursos que a PGR afirma que Lula recebeu de propina estão
relacionados à aquisição do imóvel onde está instalado o Instituto Lula, no
valor de R$ 12,4 milhões, e também à compra do apartamento dele em São Bernardo
do Campo-SP, no valor de R$ 504 mil que teriam sido fornecidos pela Odebrecht.
Além disso, Lula teria recebido da OAS e da Odebrecht propina "feita
por meio do custeio de reformas em sítio localizado em Atibaia/SP, sobre a qual
detinha a posse direta, nos respectivos valores concedidos por aquelas empresas
de R$ 170.000,00 e R$ 700.000,00, montantes que também foram objeto de
dissimulação, ocultação da sua origem, movimentação, disposição e propriedade.
No total, em relação à OAS, Janot afirma que foram feitos pagamentos no
valor de R$ 27 milhões ao ex-presidente para favorecer a construtora em
contratos em obras em Alagoas, Pernambuco, Amazonas e Rio de Janeiro, entre
2004 e 2012.
Em dois momentos, Janot faz uma listagem de valores multimilionários que
Lula teria recebido da Odebrecht de forma indevida. Primeiro, Janot diz que o
ex-presidente recebeu entre 2004 e 2012 R$ 128,1 milhões para contratos na
Refinaria do Nordeste, no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj),
entre 2004 e 2012.
Mais adiante na denúncia, Janot aponta que Lula recebeu R$ 75,4 milhões
em contratos relacionados à Refinaria Getúlio Vargas, a serviços de
terraplenagem da área de construção e montagem da Refinaria do Nordeste, e a
outros serviços de terraplenagem, drenagem e anel viário da área do Comperj, além
da execução de obras de construção e montagem no Terminal de Cabiúnas, em
Campos-RJ, e no Gasoduto Cabiúnas (GASDUC III).
"Apesar de não estar mais à frente da Presidência da República, Lula
mantinha forte influência nos rumos do governo Dilma, além de ser uma pessoa
influente perante outras autoridades estrangeiras, especialmente na América
Latina e na África, países em que a Odebrecht tinha forte interesse. Por essa
razão, os pagamentos de propina diretamente para Lula não cessaram após sua
saída do governo", destacou Janot.
Defesas
A defesa de Lula enviou uma nota à imprensa na qual afirma que há
perseguição ao ex-presidente da República. “Essa denúncia, cujo teor ainda não
conhecemos, é mais um exemplo de mau uso das leis para perseguir o
ex-Presidente Lula, que não praticou qualquer crime e muito menos participou de
uma organização criminosa. É mais um ataque ao Estado de Direito e a
democracia", afirmou o advogado Cristiano Zanin Martins.
"O protocolo dessa denúncia na data de hoje sugere ainda uma tentativa
do MPF de mudar o foco da discussão em torno da ilegalidade e ilegitimidade das
delações premidas no país", finalizou o advogado do ex-presidente Lula.
Em nota, o PT afirma: "A denúncia apresentada nesta terça-feira
(5/9) pela Procuradoria Geral da República parece uma tentativa do atual
procurador-geral de desviar o foco de outras investigações, que também envolvem
um membro do Ministério Público Federal, no momento em que ele se prepara para
deixar o cargo.
Não há fundamento algum nas acusações contra o Partido dos Trabalhadores.
Desde o início das investigações da Lava Jato, o PT vem denunciando a
perseguição e a seletividade de agentes públicos que tentam incriminar a
legenda para enfraquecê-la politicamente. Esperamos que essas mentiras sejam
tratadas com serenidade pela justiça brasileira, e terminem arquivadas como já
ocorreu com outras denúncias sem provas apresentadas contra o partido."
Já o advogado Luiz Flávio Borges Durso, que defende Vaccari, afirmou em
nota que a denúncia de Janot "é totalmente improcedente, pois o sr.
Vaccari, enquanto tesoureiro do PT, cumpriu seu papel, de solicitar doações
legais destinadas ao partido, as quais sempre foram depositadas na conta
bancária partidária, com respectivo recibo e a prestação de contas às autoridades
competentes, tudo dentro da lei e com absoluta transparência".
"O sr. Vaccari continua confiando na Justiça brasileira e tem
convicção de que as acusações que lhe são dirigidas, haverão de ser
rejeitadas", diz a nota do advogado.
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