quarta-feira, 6 de setembro de 2017

OPERAÇÃO LAVA JATO

Janot denuncia Lula, Dilma, Gleisi, Palocci, Edinho, Mantega, Paulo Bernardo e Vaccari


Procurador-geral da República denunciou petistas ao Supremo Tribunal Federal em inquérito que apura se partido formou organização criminosa para desviar dinheiro da Petrobras.


G1, Brasília 05/09/2017

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou ao Supremo Tribunal Federal por crime de organização criminosa os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff; os ex-ministros Antonio Palocci Filho, Guido Mantega, Edinho Silva e Paulo Bernardo; a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT; e o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto.

A denúncia, no âmbito da Operação Lava Jato, foi oferecida dentro de inquérito que apura se o PT formou uma organização criminosa para desviar dinheiro da Petrobras.

Todos os denunciados são suspeitos de “promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa”, cuja pena é de 3 a 8 anos de prisão, além de multa.

A PGR também cobra dos oito denunciados indenização de R$ 6,8 bilhões, valor que inclui devolução à Petrobras de suposto dinheiro desviado, além de danos morais e materiais.

G1 busca contato com todos os denunciados (leia as versões deles ao final desta reportagem).

Caberá ao ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, notificar os acusados a apresentarem resposta e levar o caso à Segunda Turma do STF, que decidirá se eles viram ou não réus pelo crime.

O caso está no Supremo Tribunal Federal porque um dos denunciados, Gleisi Hoffmann, tem foro privilegiado, devido à condição de senadora.

Janot pediu ao STF que sejam remetidos para a Justiça Federal do Paraná os casos dos ex-ministros Ricardo Berzoini, Jaques Wagner e Erenice Guerra; do ex-senador Delcídio do Amaral; do ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli; além dos de Paulo Okamoto, ex-presidente do Sebrae; Giles Azevedo, ex-assessor de Dilma; e o do pecuarista José Carlos Bumlai.

Como os casos deles não têm relação direta com o de Gleisi, não devem ficar no Supremo e – se assim decidir o ministro Fachin – serão analisados pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância da Justiça Federal, no Paraná.


A denúncia

Segundo a denúncia, entre 2002 e 2016, os oito acusados "integraram e estruturaram uma organização criminosa com atuação durante o período em que Lula e Dilma Rousseff sucessivamente titularizaram a Presidência da República, para cometimento de uma miríade de delitos, em especial contra a administração pública em geral".

De acordo com o procurador-geral, o grupo do PT é "parte de uma organização criminosa única, que congrega, pelo menos, os partidos PT, PMDB e PP, bem como núcleos diversos.

O procurador diz que o esquema permitiu que os acusados recebessem, juntos, R$ 1,5 bilhão em propina.

Segundo Janot, Lula já foi acusado de organização criminosa no Paraná, mas a apuração no Supremo "é mais abrangente" por "narrar maior quantidade de ilícitos praticados pela organização".

Para Janot, "os concertos das ações criminosas praticadas voltaram-se especialmente para a arrecadação de propina por meio da utilização de diversos entes e órgãos públicos da administração pública direta e indireta, tais como a Petrobras, do BNDES e do Ministério do Planejamento".

O grupo do PT, segundo Janot, teria atuado até maio de 2016, quando Dilma teve de deixar a Presidência após condenação no processo de impeachment.


Lula

A participação de Lula, de acordo com a denúncia, remonta a 2002, quando ele foi eleito pela primeira vez para o Planalto.

“Lula, de 2002 até maio de 2016, foi uma importante liderança, seja porque foi um dos responsáveis pela constituição da organização e pelo desenho do sistema de arrecadação de propina, seja porque, na qualidade de presidente da República por 8 anos, atuou diretamente na negociação espúria em torno da nomeação de cargos públicos com o fito de obter, de forma indevida, o apoio político necessário junto ao PP e ao PMDB para que seus interesses e do seu grupo político fossem acolhidos no âmbito do Congresso Nacional”, narra a denúncia.

Para Janot, Lula deve ter condenado a uma pena maior que os demais porque é considerado "líder" da suposta organização criminosa. O primeiro episódio narrado sobre o presidente é de 2002, quando teria aceitado dinheiro da Odebrecht para sua campanha, em troca de beneficiar o grupo em seu eventual governo, caso fosse eleito.

“Lula foi o grande idealizador da constituição da presente organização criminosa, na medida em que negociou diretamente com empresas privadas o recebimento de valores para viabilizar sua campanha eleitoral à presidência da República em 2002 mediante o compromisso de usar a máquina pública, caso eleito (como o foi), em favor dos interesses privados deste grupo de empresários. Durante sua gestão, não apenas cumpriu com os compromissos assumidos junto a estes, como atuou diretamente e por intermédio de Palocci, para que novas negociações ilícitas fossem entabuladas como forma de gerar maior arrecadação de propina”, afirma Janot.


Dilma

Janot diz que a ex-presidente Dilma Rousseff integrou a organização criminosa desde 2003, quando assumiu o Ministério de Minas e Energia, a convite de Lula.
“Desde ali contribuiu decisivamente para que os interesses privados negociados em troca de propina pudessem ser atendidos, especialmente no âmbito da Petrobras”, diz a denúncia.

Para o procurador, os delitos da petista teriam continuado quando ocupou a Presidência, destacando as negociações que fez junto à Odebrecht. A denúncia diz que ela atuou, de “forma indireta” na cobrança de propina, por meio de Mantega e Edinho Silva.

“Da mesma forma, durante o governo de Dilma, sempre que havia atrasos no pagamentos a João Santana [marqueteiro do PT] pela Odebrecht, era Dilma que resolvia de imediato a questão”, acrescenta Janot.

O procurador lista diversas contrapartidas obtidas pela Odebrecht durante os governos Lula e Dilma, entre os quais: ampliação de crédito para exportações para Angola; liberação de recursos para construção de submarinos; benefícios tributários para a Braskem; atuação em prol da empresa em obras de usinas hidrelétricas; e facilitação da compra, pela Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) de torre comercial do grupo.

“Ao longo dos governos Lula e Dilma, por manifesta contribuição dos ora denunciados no esquema criminoso acima narrado, a holding Odebrecht S.A. obteve espantosa evolução patrimonial, saltando o seu ativo total de R$ 15.894.355.000,00 em 2005 para R$ 213.329.886.000,00 em 2015, uma multiplicação de seus bens em mais de 13 vezes, durante o aludido período”, registra Janot.


Versões dos denunciados

Lula - "A denúncia da PGR, sem qualquer fundamento, é uma ação política. É o auge da campanha de perseguição contra o ex-presidente Lula movida por setores partidarizados do sistema judicial. Foi anunciada hoje para tentar criar um fato negativo no dia em que Lula conclui sua vitoriosa jornada pelo Nordeste", informou a assessoria do ex-presidente.

Dilma Rousseff - "Sobre a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a Assessoria de Imprensa da presidenta eleita Dilma Rousseff esclarece: 1. Sem apresentar provas ou indícios da materialidade de crime, o chefe do Ministério Público Federal oferece denúncia ao Supremo Tribunal Federal sem qualquer fundamento. 2. Caberá ao STF garantir o amplo direito de defesa e reparar a verdade, rejeitando-a. 3. A Justiça será feita e não prevalecerá o Estado de Exceção. Não há mais espaço para a Justiça do Inimigo."

Gleisi Hoffmann - “Tomei conhecimento da denúncia ao mesmo tempo em que foi divulgada à imprensa. É uma denúncia sem qualquer fundamento. Busca criminalizar a política e o Partido dos Trabalhadores no mesmo momento em que malas de dinheiro são descobertas e membro do Ministério Público é envolvido em denúncias."

Antonio Palocci - A defesa do ex-ministro informou que somente se manifestará quando tiver conhecimento da denúncia.

Guido Mantega - "É no mínimo contraditório que, num dia histórico, quando o Brasil se depara com a desfaçatez dos delatores e sua disposição ao teatro e à dissimulação, a PGR resolva oferecer denúncia usando como prova basicamente a palavra de delatores, antes de empreender uma apuração mínima para saber se as acusações possuem algum elo com a realidade", afirmou a defesa do ex-ministro.

Edinho Silva - O ex-ministro afirmou que sempre agiu de forma ética e legal, que não tem dúvidas de que todos os fatos serão esclarecidos e que a justiça vai prevalecer.

Paulo Bernardo - A defesa do ex-ministro Paulo Bernardo afrimou que não teve conhecimento da denúncia e nem da existência de inquérito policial para apurar essas possíveis condutas.

João Vaccari Neto - "A defesa do Sr. João Vaccari Neto, diante dessa surpreendente denúncia ofertada hoje, pelo Sr. Procurador Geral da República, manifesta-se, asseverando que ela é totalmente improcedente, pois o Sr. Vaccari, enquanto tesoureiro do PT, cumpriu seu papel, de solicitar doações legais destinadas ao partido, as quais sempre foram depositadas na conta bancária partidária, com respectivo recibo e a prestação de contas às autoridades competentes, tudo dentro da lei e com absoluta transparência. O Sr. Vaccari continua confiando na Justiça brasileira e tem convicção de que as acusações que lhe são dirigidas, haverão de ser rejeitadas", afirmou em nota o advogado Luiz Flávio Borges D'Urso.


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Em denúncia, Janot aponta R$ 230 milhões em propina para Lula


Parte dos recursos estão relacionados à aquisição do imóvel onde está instalado o Instituto Lula


06/09/2017 - ATUALIZADA POR ESTADÃO CONTEÚDO

Ao denunciar a formação de uma organização criminosa pelo PT no âmbito da Lava Jato nos mandatos presidenciais dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o procurador-geral da República descreveu pagamentos de vantagens indevidas a Lula em valores que, somados, chegam a R$ 230 milhões, como contrapartida a favorecimento de empresas como a Odebrecht e a OAS em contratos. Janot descreve Lula como "grande idealizador" da organização criminosa formada no governo federal para desvio de recursos relacionados à Petrobras.

Parte dos recursos que a PGR afirma que Lula recebeu de propina estão relacionados à aquisição do imóvel onde está instalado o Instituto Lula, no valor de R$ 12,4 milhões, e também à compra do apartamento dele em São Bernardo do Campo-SP, no valor de R$ 504 mil que teriam sido fornecidos pela Odebrecht.

Além disso, Lula teria recebido da OAS e da Odebrecht propina "feita por meio do custeio de reformas em sítio localizado em Atibaia/SP, sobre a qual detinha a posse direta, nos respectivos valores concedidos por aquelas empresas de R$ 170.000,00 e R$ 700.000,00, montantes que também foram objeto de dissimulação, ocultação da sua origem, movimentação, disposição e propriedade.

No total, em relação à OAS, Janot afirma que foram feitos pagamentos no valor de R$ 27 milhões ao ex-presidente para favorecer a construtora em contratos em obras em Alagoas, Pernambuco, Amazonas e Rio de Janeiro, entre 2004 e 2012.

Em dois momentos, Janot faz uma listagem de valores multimilionários que Lula teria recebido da Odebrecht de forma indevida. Primeiro, Janot diz que o ex-presidente recebeu entre 2004 e 2012 R$ 128,1 milhões para contratos na Refinaria do Nordeste, no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), entre 2004 e 2012.

Mais adiante na denúncia, Janot aponta que Lula recebeu R$ 75,4 milhões em contratos relacionados à Refinaria Getúlio Vargas, a serviços de terraplenagem da área de construção e montagem da Refinaria do Nordeste, e a outros serviços de terraplenagem, drenagem e anel viário da área do Comperj, além da execução de obras de construção e montagem no Terminal de Cabiúnas, em Campos-RJ, e no Gasoduto Cabiúnas (GASDUC III).

"Apesar de não estar mais à frente da Presidência da República, Lula mantinha forte influência nos rumos do governo Dilma, além de ser uma pessoa influente perante outras autoridades estrangeiras, especialmente na América Latina e na África, países em que a Odebrecht tinha forte interesse. Por essa razão, os pagamentos de propina diretamente para Lula não cessaram após sua saída do governo", destacou Janot.


Defesas

A defesa de Lula enviou uma nota à imprensa na qual afirma que há perseguição ao ex-presidente da República. “Essa denúncia, cujo teor ainda não conhecemos, é mais um exemplo de mau uso das leis para perseguir o ex-Presidente Lula, que não praticou qualquer crime e muito menos participou de uma organização criminosa. É mais um ataque ao Estado de Direito e a democracia", afirmou o advogado Cristiano Zanin Martins.

"O protocolo dessa denúncia na data de hoje sugere ainda uma tentativa do MPF de mudar o foco da discussão em torno da ilegalidade e ilegitimidade das delações premidas no país", finalizou o advogado do ex-presidente Lula.

Em nota, o PT afirma: "A denúncia apresentada nesta terça-feira (5/9) pela Procuradoria Geral da República parece uma tentativa do atual procurador-geral de desviar o foco de outras investigações, que também envolvem um membro do Ministério Público Federal, no momento em que ele se prepara para deixar o cargo.

Não há fundamento algum nas acusações contra o Partido dos Trabalhadores. Desde o início das investigações da Lava Jato, o PT vem denunciando a perseguição e a seletividade de agentes públicos que tentam incriminar a legenda para enfraquecê-la politicamente. Esperamos que essas mentiras sejam tratadas com serenidade pela justiça brasileira, e terminem arquivadas como já ocorreu com outras denúncias sem provas apresentadas contra o partido."

Já o advogado Luiz Flávio Borges Durso, que defende Vaccari, afirmou em nota que a denúncia de Janot "é totalmente improcedente, pois o sr. Vaccari, enquanto tesoureiro do PT, cumpriu seu papel, de solicitar doações legais destinadas ao partido, as quais sempre foram depositadas na conta bancária partidária, com respectivo recibo e a prestação de contas às autoridades competentes, tudo dentro da lei e com absoluta transparência".

"O sr. Vaccari continua confiando na Justiça brasileira e tem convicção de que as acusações que lhe são dirigidas, haverão de ser rejeitadas", diz a nota do advogado.

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